segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A batata quente ou será o bode?



Se você tem uma situação que não sabe como resolver, o que faz? Passa a batata quente para outro, ou procura um bode expiatório para justificar o problema. Parece familiar? Não? Mas é assim que a sociedade e nós, seres humanos, agimos. Qualquer forma de abuso é um assunto polêmico e de dimensões gigantescas. Por mais que se tente resolver, prevenir, conscientizar, os resultados são mínimos. Logo, o que fazer? Dar nomes ao bode expiatório! Quantas vezes você ouve comentários ou perguntas do tipo: “O que você estava fazendo naquele lugar àquela hora?” “Vê se isso é roupa que se use!” “Ah, você com certeza se insinuou para ele.” “Tinha de responder ao seu marido quando ele estava bêbado?” “Você também, fica conversando com estranhos na rua!”
E aí, você que foi abusada, automaticamente se cala, porque teme ouvir mais uma vez algo parecido; prefere então escutar a própria voz, que vem carregada de medo, melancolia, vergonha, dor e culpa. Lá dentro, essa voz fica falando: eu devo ter feito algo errado mesmo para merecer o que aconteceu. Melhor será carregar calada essa culpa – eu já perdi mesmo o valor – do que ter de ouvir os outros me acusando.
Assumir a culpa nada mais é do que um mecanismo de autodefesa: se eu me acusar, quando alguém mais o fizer não vai doer tanto. Porém, amiga, me responda com sinceridade: que culpa tem uma criança abusada dentro do conforto de seu próprio lar por alguém que, até então, lhe foi apresentado como família? Se você não pode culpar aquela criança, por que então tem se culpado? O problema em questão não é a sua pessoa, mas o abuso. É preciso coragem para assumir a culpa por algo que não se fez, mas semana que vem vou rasgar o verbo sobre um ato de maior coragem: ver os fatos como são. Encontro você aqui.

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