quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

“Ainda existe Machismo”, declaram Pastoras Batistas Nacionais

“Ainda existe Machismo”, declaram Pastoras Batistas NacionaisRubenia, Myrian, Sueli e Maria das Dores tem algumas coisas em comum. São mulheres, mães, esposas e exercem ativamente o ministério pastoral feminino. Algumas delas declaram já terem sofrido com preconceito e machismo, mas todas concordam numa coisa: não se importam com o que pensam, pois são felizes cuidando de vidas.
Elas são apenas 4 exemplos de um universo que é cada vez maior no Brasil: o pastorado feminino. Negar que ele exista não vai mudar em nada o fato de que Deus tem feito muito através da vida destas e outras mulheres. Para muitos, a discussão chegou tarde nos arraiais batistas. Para outros, chega em bom tempo: em tempos de mudança.

Leia o breve relato destes testemunhos.

“Jesus veio libertar a mulher” – Pra. Sueli Ligabo

Meu nome é Sueli Veras Ligabo, tenho 50 anos de idade, pastoreio há 20 anos na Igreja Batista da Convenção Batista Nacional em São Carlos, interior de SP. Sou pastora juntamente com meu esposo Pr. Luís Henrique Ligabo. Fui ordenada pela ordem de Ministros Batistas Nacionais de Minas Gerais em 2004, em Belo Horizonte. Junto comigo foram ordenadas mais 10 pastoras ao ministério da Palavra. Atuo em minha Igreja juntamente com meu esposo pastor, exerço livremente o ministério de ensino em todas as faixas etárias, inclusive pregação. Ministro a ceia junto com meu marido e na sua ausência também. Já ministrei em outros estados e países como Itália e Chile. Existem ainda alguns pastores que não reconhecem a mulher como pastora, mas se a mulher exerce atividade pastoral ele é sim uma pastora. Deve dar bom testemunho como todo pastor e fazer jus ao chamado pastoral. Jesus veio para libertar a mulher. Acho difícil a mulher solteira, ou que tenha um marido que não é pastor, exercer o ministério. Mas também não é impossível. Há muitas mulheres que o fazem, por exemplo, a Apóstola Valnice.

“As pessoas entendem o ser pastor ou pastora como um título, um sinal de status e não como um chamado vindo da parte do Senhor” – Pra. Myrian Rosário

Meu nome é Myrian Rosário e pertenço à Igreja Batista Quatro de Julho (da Convenção Batista Brasileira) no Rio de Janeiro. Tenho nove anos de consagração ao ministério pastoral, mas trabalho na liderança desde 1996, quando ainda era solteira. Casei-me em 2001, graduei-me no Seminário ainda solteira (1999), e bem antes do meu marido (2003). Já tinha um ministério consolidado antes de me casar. Não sou pastora porque sou a esposa do pastor! Na igreja já atuei como professora e superintendente de EBD, líder de jovens, líder de adolescentes e há 10 anos ministro, com o meu marido, o Curso Casados Para Sempre. Também ministro o Curso Mulher Única – da Universidade da Família. Liderei células, fiz discipulado com jovens e adolescentes por anos, trabalhei com aconselhamento de jovens, adolescentes, mulheres e também de namorados e noivos, ministrando um preparo para o casamento e acompanhando namoros desde o início. 

Prego a Palavra mas ainda não ministrei ceia ou batismo. No exercício do meu ministério como pastora, nunca encontrei muita “dificuldade”. Alguns entraves talvez. Por exemplo, quando sai da Igreja Batista Nacional de Jardim Guançã, onde fui consagrada juntamente com o meu marido, e fomos para uma outra igreja da CBN, a primeira providência do pastor de lá foi ir até a minha casa dizendo que tinha ouvido excelentes referências do meu ex-pastor sobre o meu trabalho na igreja, mas que, na igreja dele, “pastora não!”. Perguntei se ele me permitiria trabalhar e que não me importava com o título que dessem (esposa de pastor, obreira, missionária, líder, irmã voluntária ou tarefeira). Para a Glória do Senhor, fizemos um excelente trabalho naquela igreja e muito membros reconheceram o meu chamado reconhecendo-me como pastora, mesmo contra a vontade do titular. Em outra ocasião, em uma igreja bem maior, deixei de liderar uma célula na zona norte de São Paulo para assumir outra célula (futura igreja), em Mairiporã, mas sem deixar de frequentar a primeira. Eu mesma escolhi o futuro líder, um pastor. Quando dei minha opinião, solicitada por ele, a todos os membros, sobre o horário de início da célula, ele me disse: o seu marido é o supervisor das células e pode falar o que quiser, você, não! Detalhe, meu marido ainda trabalha secularmente e todo trabalho de supervisão das células era feito, basicamente, por mim. Nessa mesma igreja, o pastor titular reconhece o trabalho das pastoras – há algumas lá – mas não o título. Desde que trabalhei num site gospel, passei a utilizar como assinatura no meu E-mail: Myrian Rosário – pastora e jornalista. Colaborava no jornal da igreja e me comunicava com muitas pessoas da igreja por e-mail. 

Motivado por isso ou não, o pastor titular soltou uma circular proibindo qualquer pessoa que se apresentasse ou se intitulasse pastora, mesmo em assinatura de e-mails. Não entendi bem, mas exclui a palavra pastora da minha assinatura sem questionar. Afinal, a obra de Deus é mais importante do que esses detalhes. A ordenação feminina é um assunto polêmico. Até o Pr. Enéas Tognini já reconhece algumas pastoras como pastoras e os mais jovens continuam na Idade da Pedra. As pessoas entendem o ser pastor ou pastora como um título, um sinal de status e não como um chamado vindo da parte do Senhor, como um encargo, uma responsabilidade nessa terra. Mulheres têm capacidade para liderar no mundo corporativo, no governo, mas não na igreja. Esses dias li o comentário de um pastor que dizia que os que são contra a ordenação de pastoras deveriam recusar os dízimos das executivas, já que mulher no comando é antibíblico (ignorando as questões culturais da época em que os textos foram escritos). O Seminário Batista Nacional, em São Paulo, onde me formei, forma dezenas de mulheres todos os anos, mas na hora do juramento (compromisso), essas alunas não podem declarar que exercerão o ministério pastoral. Por incrível que pareça, me sinto muito mais acolhida entre os tradicionais do que no meio dos renovados. Sou editora-chefe do Jornal da Convenção Batista do Estado de São Paulo e, apesar dos contrários, existem muitos que aceitam o fato de eu ser pastora e jornalista melhor do que os batistas nacionais. Não tive nenhum problema com o meu pastor atual, que é da CBB que, aliás, acaba de deliberar favoravelmente sobre a ordenação de mulheres. Às vezes me sinto triste, mas tento não me deter muito a esse detalhe.

Muitas pessoas “fazem careta” quando uma mulher sobe ao púlpito pra pregar, muitos dão demonstrações explícitas de machismo, mas o Senhor é a minha força. Foi Ele quem me chamou, que tem me capacitado, me sustentado e me dado graça para pregar as boas novas da salvação aos perdidos, cuidar e ensinar os novos convertidos, levar edificação aos salvos e trabalhar na restauração de famílias. Gostaria muito que pastoras como eu recebessem o mesmo tratamento dispensado aos pastores, mas isso não altera em nada a convicção que tenho do meu chamado. Ai dos pastores se não fosse o ministério feminino nas igrejas! Os ministérios de ensino, infantil, intercessão, visitação são basicamente desenvolvidos pelas mulheres. Mulheres são líderes de departamentos, líderes de células, conselheiras, intercessoras, professoras de EBD, evangelistas, missionárias, mas o púlpito ainda é um lugar restrito às pessoas do sexo masculino. Se aceitam o nosso trabalho porque se negam a reconhecer o nosso chamado?

“Não encontro dificuldades pois atualmente minha igreja me aceita como pastora” – Pra. Rubenia Diniz Vieira de Souza Siqueira

Meu nome é Rubenia Diniz Vieira de Sousa Siqueira, tenho 46 anos e sou pastora na Igreja Batista Nacional Geração Eleita. Exerço o ministério pastoral há 10 anos, pregando, ensinando aos jovens, mulheres, ministrando a ceia entre outras atividades. Não encontro dificuldades, pois atualmente a igreja me aceita como pastora. No passado, algumas mulheres não aceitavam o meu ministério, mas hoje já não congregam conosco. Para a Glória de Deus, em minha igreja há muitos jovens e novos convertidos. Em nosso meio não existe preconceito mas no meio Batista Nacional há sim. No entanto, sinto-me bem, pois não preciso que os homens me reconheçam. O importante é que Deus me chamou e me capacitou para exercer o meu chamado. Amo ser pastora, pois amo cuidar de pessoas. Se eu pudesse mandar um recado aos pastores batistas nacionais eu diria:
Deixem de preconceitos e ouçam a voz de Deus, pois as mulheres sábias e virtuosas são instrumentos valiosos nas mãos de Deus. 

“Sinto-em desvalorizada pelo fato de ser mulher” – Pra. Maria das Dores

Meu nome é Maria das Dores Oliveira Dias, tenho 49 anos e sou pastora na Igreja Batista Tocha Acesa em Espinosa, Minas Gerais. Estou no ministério pastoral há 27 anos. Atuo em todas as áreas, só não faço batismo e nem ministro a ceia. Infelizmente sinto que ainda existe preconceito pelo fato de ser mulher – Machismo por parte dos homens que são pastores e desconfiança, ou seja, muitos deles não confiam no nosso ministério porque acham que somos frágeis e sentimentais. Não digo que o preconceito exista por parte da denominação, porque se assim eu fizesse, estaria colocando todos os líderes com a mesma postura. Acho que muitos líderes são preconceituosos, não confiam no ministério feminino. São machistas e acham que só os homens podem ser ordenados a pastores. Por isso, às vezes me sinto desvalorizada pelo fato de ser mulher. Se eu pudesse mandar um recado aos colegas, eu diria:
Amados pastores, eu, Maria das Dores Oliveira Dias, quero lhes dizer que eu amo o Senhor Jesus, como vocês amam. Reconheço que não posso viver um minuto, ou para ser mais precisa, um segundo, sem Ele, porque Ele é o fôlego da minha vida. Não posso e nem consigo imaginar a minha vida sem a presença do meu amado Espírito Santo. Por isso, acho que a mesma essência ministerial que existe e traz o ardor do seu ministério, e a coragem, e a força, e o vigor que tem dentro de vocês, que são homens, existe também dentro de mim, que sou mulher.
            Isaías 41:10.


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