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Entre os jogos de azar estão aqueles jogos permitidos por
lei, que são as várias modalidades de loteria, os bingos - este último, muito
usado até por igrejas cristãs e instituições - e os sorteios pelo telefone
valendo dinheiro, carros e outros prêmios. Quem explora este tipo de jogo tem
licença de órgão público competente. Mas nem por isso quer dizer que sejam
jogos que convêm ao crente.
Temos também os jogos ilícitos, cujo mais popular é o Jogo
do Bicho. Os cassinos são mais uma modalidade de jogos de azar cuja legalidade
e implantação oficial está sendo discutida no Brasil. Para o cristão, o que
realmente importa é se estas modalidades de jogo acabam por afetar algum
princípio bíblico.
A Bíblia não proíbe de forma explícita os jogos de azar.
Entretanto, nossa ética é elaborada não somente com aquilo que a Bíblia ensina
explicitamente como também com aquilo que pode ser legitimamente derivado e
inferido das Escrituras. Existem diversos princípios bíblicos que deveriam
fazer o crente hesitar antes de jogar:
1. O trabalho é o caminho normal que a Bíblia nos apresenta
para ganharmos o dinheiro que precisamos, Ef 4:28; 2Ts 3:12; Pv. 31. Quando uma
pessoa não pode trabalhar, por motivos diversos, desde desemprego até
incapacidade, ela deve procurar outros meios
de sustento e depender de Deus pela oração (Fp 4.6, 19). A probabilidade
da situação do desempregado piorar ainda mais se ele gastar seu pouco dinheiro
em jogo é muito grande.
2. Tudo que ganho pertence a Deus (Sl 24.1), e como mordomo,
não sou livre para usar o dinheiro do jeito que quiser, mas sim para atingir os
propósitos de Deus. E quais são estes propósitos? Aqui vão alguns mencionados
na Palavra: (1) Suprir as necessidades da minha família (1Tm 5.8), o que pode
incluir, além de sustento e educação, lazer e outras atividades que contribuam
para a vida familiar; (2) compartilhar com os irmãos que têm necessidades e
sustentar a obra do Evangelho (2Co 8-9; Gl 6:6-10; 3 João; Ml 3.10).
3. Deus usa o dinheiro para realizar alguns importantes
propósitos em minha vida: suprir minhas necessidades básicas (Mt 6:11; 1Tm
6:8); modelar meu caráter (Filip 4:10-13); guiar-me em determinadas decisões
pela falta ou suficiência de recursos; ajudar outros por meu intermédio;
mostrar seu poder provendo miraculosamente as minhas necessidades. Jogar na
loteria não contribui para qualquer destes objetivos.
4. Cobiça e inveja são pecado (Ex 20:18; 1Tm 6:9; Heb 13:5),
e são a motivação para os jogos de azar na grande maioria das vezes. A atração
de ganhar dinheiro fácil tem fascinado a muitos evangélicos.
5. Existem várias advertências no livro de Provérbios sobre
ganhar dinheiro que podem se aplicar aos jogos de azar: o desejo de enriquecer
rapidamente traz castigo (Pv 28.20,22); o dinheiro que se ganha facilmente vai
embora da mesma forma (Pv 13.11); e riqueza acumulada da forma errada prejudica
a família (Pv 15.27).
Uma palavra aos presbiterianos do Brasil: o Catecismo Maior
da Igreja Presbiteriana do Brasil enquadra os jogos de azar como quebra do
oitavo mandamento, “não furtarás”. Após fazer a pergunta, “Quais são os pecados
proibidos no oitavo mandamento?” (P. 142), inclui na reposta “o jogo dissipador
e todos os outros modos pelos quais indevidamente prejudicamos o nosso próprio
estado exterior, e o ato de defraudar a nós mesmos do devido uso e conforto da
posição em que Deus nos colocou”. É claro que esta posição oficial da IPB vale
para seus membros, mas não deixa de ser interessante verificar os argumentos
usados e sua aplicabilidade para os cristãos em geral.
É importante lembrar, ainda, que os jogos de azar são
responsáveis por muitos males sociais, emocionais e jurídicos no povo, tanto de
crentes como de não crentes. Menciono alguns deles:
1. O empobrecimento. Há pessoas que são cativadas pelo vício
de jogar e, diariamente estão jogando. E, como só um ou poucos ganham, há
pessoas que passam a vida toda jogando sem nunca ganhar. Não poucos perderam
tudo o que tinham em jogos. Muitos pais de família pobres gastam o dinheiro da
feira no jogo.
2. O vício de jogar apostando dinheiro. A tentação para
jogar começa desde cedo a estimular uma compulsão entre crianças e jovens que
começam a adquirir o hábito de “tentar a sorte”. Há milhares de jovens que já
são viciados no jogo, especialmente com a vinda da internet e a possibilidade
de jogos online com apostas.
3. Arruinar vidas e carreiras. Não são poucas as histórias
de pessoas que se arruinaram financeiramente jogando na bolsa de valores –
conheço pelo menos uma pessoa nesta condição – ou apostando em outros tipos de
jogo.
4. Jogar dinheiro fora. As chances de se ganhar na loteria
são piores do que se pensa. Para efeito de comparação, a probabilidade de uma
pessoa morrer em um atentado terrorista durante uma viagem ao exterior é de 1
em 650 mil e atingida por um raio é de 1 em 30 mil. Se uma pessoa compra 50 bilhetes
a cada semana, ela irá ganhar o prêmio principal uma vez a cada 5 mil anos.
Outra pergunta frequente é se as igrejas deveriam receber
ofertas e dízimos de dinheiro ganho em loteria. Minha tendência é dizer que não
deveriam. Guardadas as devidas proporções, lembro que no Antigo Testamento o
sacerdote era proibido de receber oferta de dinheiro ganho na prostituição (Dt
23:18) e que no Novo, Pedro recusou o dinheiro de Ananias e Safira (At 5) e de
Simão Mago (At 8:18-20).
Alguém pode dizer que o valor gasto nas apostas em casas
lotéricas é muito pequeno. Concordo. Mas é uma questão de princípio e não de
quantidade. Quando o que está em jogo são princípios, um centavo vale tanto
quanto um milhão.
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