“Foi
o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante.”
(Saint Exupéry “o pequeno príncipe”)
Nada mais do que uma menina. Eu era isso. Porém minha idade não se
aliava muito aos meus desejos e nota-se que eu era uma menina, porque se
não o fosse jamais desejaria algo que é certo nunca poder possuir.
Eu o via todos os dias e isso era veneno.
Como ferpas de madeira enfiadas lentamente embaixo das minhas unhas. Mas
apesar de machucar pela ignorância, era uma paixão deliciosa de sentir.
Cada dia ia se tornando extremo: ou a felicidade plena de um sorriso ou
a dor tangível de uma estupidez.
Às vezes, apesar do esquecimento ou do ato de fingir não
lembrar, às vezes, eu acordava chorando. Depois de anos sem ver, sem
nunca ter o beijado, tocado ou sequer ter visto um sorriso em seus
lábios que fosse só para mim_ eu não dormia pensando em fazê-lo.
Amanhecia, anoitecia. Em suma o tempo passava e com ele a
decepção de se perder o que nunca se conseguiu. Mas o amor ficou ali,
guardado, protegido. Intocável para sempre.
E com o tempo a
menina cresceu. O mundo mudou muito e com ele mudaram todas as coisas.
Vieram outras dores, amores,
paixões, insanidades e a adolescência: o reino encantado das
possibilidades.
E aquele amor que permanecera sempre assim continuava.
Forte e bruto como sempre. Perigoso como sempre. Amor que viveu em mim
de maneira tão clara e absoluta que me fez enxergar o pior nele: e me
apaixonar por isso. E quando digo forte bruto e perigoso não tenho
certeza se é dele que estou falando ou se falo mesmo do amor. Pois até
no modo intrínseco do meu jeito de amar e ver o amor ele esta presente.
Forma essa que era pra ser fantasiosa, sem alteração sem mácula. E não
é.
É verdadeira como um pingo de chuva.
Engraçado foi
quando o vi outra vez, depois de tanto tempo. Tanta vida que passou,
tanta oportunidade para esquecer. Porém quando dou por mim estou suando,
rindo como boba e com o coração batendo tão forte que me sinto um beija
flor. E talvez por
estarmos no reino das possibilidades , onde tudo nos parece viável,
imaginamos ser viável um encontro . Algo comum entre adolescente que são
seres loucos para ter algo em comum. Também pensei que seria bom estar
com ele, ainda que só um dia. Seria o dia que sempre esperei. Mas a
real intenção era tirá-lo de mim de uma vez por todas, e caso eu não
conseguisse como nunca consegui, torcer para que ele o fizesse por
mérito próprio. E fui repetindo pra mi mesma: Forte bruto e perigoso.
Forte bruto e perigoso. E estava torcendo para ser horrível, para que de
alguma forma, não sabendo se isso era possível, eu me decepcionasse.
E me
preparei para encarar o dia que se seguisse a esse e eu o visse outra
vez. Então eu sorriria da forma mais gentil que conseguisse e agiria da
forma mais natural que pudesse. Tudo voltaria a ser o que era. O mundo
giraria novamente sem importarem quantos milhares de pedaços estaria o
meu coração.
Mas aconteceu algo inesperado. Algo que eu temia
que acontecesse, mas no fundo duvidava. Ele foi incrivelmente
carinhoso. E gentil. Então me perdi, e me dei conta disso quando me
notei já embriagada com seus beijos e sorrisos.
Então parei de resistir. Parei de pensar
a respeito. Parei de indagar “E depois?” e me entreguei.
Toda a vontade de tê-lo, beijá-lo e senti-lo beijar de volta eu
supri. De sentir seu hálito e saber que não importa nem o antes nem o
depois, naquele instante ele era meu. E em todos os séculos e lugares do
mundo pra se existir ele existia ali, ao mesmo tempo em que eu. Tocando
meu rosto com suas mãos que tarde demais, ou ainda cedo, descobri que
assim tocando meu rosto nada tem de fortes, brutas ou perigosas.
Entretanto e apesar de tudo de um jeito meio torto e não sabendo bem
porquê , ele se apaixonou por mim. Se apaixonou perdidamente a ponto de
nos vermos todos os dias e ele morrer de saudade. De ficar bobo. Chorar
de amor. Como nunca antes.
No fim nós dois percebemos que coisas grandes acontecem na hora certa. No momento exato para dar certo. E deu certo, amor, deu certo. |
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