Um grande amigo meu publicou um artigo “antipático”,
recentemente, contrário ao ministério pastoral feminino. Ao acompanhar as
discussões em seu blog e nas redes sociais, verifiquei que algumas irmãs
ficaram furiosas com o seu texto. Uma delas afirmou: “As doutrinas são dos
homens. Os dons vêm de Deus”. Creio que muitos irmãos (mulheres e homens) ainda
não aprenderam que Deus adotou o princípio da prioridade, quando deu ao homem a
incumbência de liderar a família e o ministério.
Mulheres podem pregar o Evangelho, orar pelos enfermos e
desempenhar todas as tarefas de um seguidor de Jesus? Sim. Elas fazem parte da
Grande Comissão? Sim. São cooperadoras de Deus? Sim. Então, por que não
poderiam ser pastoras? Como sou homem, talvez a minha resposta a essa pergunta
soe como machista. Por outro lado, quando mulheres defendem pontos de vista
contrários ao machismo, alguns homens ficam com a impressão de que elas são
feministas. Como resolver esse difícil impasse?
Homens e mulheres precisam entender que, independentemente
das circunstâncias, a Bíblia sempre será a inerrante e infalível Palavra de
Deus. Mulheres e homens não devem “legislar” em causa própria, e sim aceitar o
que a Palavra do Senhor assevera acerca da priorização e da hierarquização
estabelecidas pelo Senhor na família e no ministério.
Alguém dirá: “Deus não faz acepção de pessoas. Somos todos
iguais. A Igreja não é como as forças armadas. Não existe hierarquia no meio do
povo de Deus. Homens e mulheres podem ser pastores”. Quem diz que Deus não
hierarquiza e prioriza deveria estudar passagens como Gênesis 1; Números 2;
Atos 15.6,22; 1 Coríntios 12.28,29; 15.23; 1 Tessalonicenses 4.16,17; 5.23,
etc. Observe especialmente os termos “primeiramente”, “em segundo lugar”, “em
terceiro lugar”, “depois”, etc.
Em Isaías 43.7 está escrito: “a todos os que são chamados
pelo meu nome, e os que criei para minha glória; eu os formei, sim, eu os fiz”.
O ser humano não foi apenas criado por Deus. Ele foi criado, formado e feito
para a glória do Senhor. Um edifício, antes de ser formado e feito, é criado
pelo arquiteto, que faz, antes da construção, o croquis, o projeto, etc. Formar
é dar forma ao que foi previamente criado, concebido, projetado. A feitura,
mencionada no texto bíblico, diz respeito ao acabamento da obra (cf. Gn 2.3).
Quem foi criado primeiro, o homem ou a mulher? Nenhum dos
dois, pois ambos fizeram parte do projeto original de Deus. Na criação não
houve priorização: “macho e fêmea os criou” (Gn 1.26). Quem foi formado primeiro?
O homem. Segue-se que a priorização divina ocorreu na formação, e não na
criação: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva” (1 Tm 2.13). Por que o
Senhor não formou primeiro a mulher e, depois, tomou uma das costelas dela para
formar o homem? Porque Ele é soberano e decidiu priorizar o homem (Gn 2.7,22).
No cristianismo genuíno não há espaço para machismo e
feminismo, movimentos extremados que ignoram o princípio divino da prioridade.
O primeiro adota o princípio da superioridade e considera a mulher inferior ao
homem, enquanto o outro, adotando o mesmo princípio, demoniza o homem. No Corpo
de Cristo, há lugar para ambos os sexos, desde que reconheçam, à luz das
Escrituras, a sua posição.
Reconheço que muitos homens cristãos precisam reconsiderar a
sua opinião acerca das mulheres, que, ao longo dos séculos, vêm sendo
discriminadas, principalmente no meio religioso. Por que muitas irmãs em Cristo
não aceitam a doutrina de Deus (e não de homens) quanto à submissão ao marido?
Porque muitos esposos, autoritários, se consideram superiores às suas esposas e
as desprezam.
Segundo a Bíblia, a relação entre homem e mulher deve ser,
antes de tudo, de respeito mútuo (1 Co 7.3-5). Deus formou Eva a partir de uma
das costelas de Adão (Gn 2.18-22) para demonstrar que a mulher não deve estar
nem à frente nem atrás do homem, mas ao seu lado e de frente para ele, como
adjutora e ajudadora, o que não denota inferioridade. Observe que Deus,
infinitamente superior ao ser humano, é o nosso Ajudador (Hb 13.5,6).
Paulo compara a submissão da mulher à sujeição de Jesus (1
Co 11.3). Deus Filho e Deus Pai fazem parte da Trindade e são iguais em poder
(Mt 28.19; Jo 10.30). Todavia, Cristo, por amor, e não por imposição do Pai,
submete-se voluntariamente a Ele, recebendo dEle toda a honra (Fp 2.6-11). A
Palavra do Senhor também afirma: “assim como a igreja está sujeita a Cristo,
assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos” (Ef 5.24). E
Cristo não obriga ninguém a obedecê-lo.
A Bíblia não abona o igualitarismo feminista, mas também não
avaliza o machismo. O termo “vaso mais fraco” (1 Pe 3.7) não foi empregado como
sinônimo de inferioridade. Ele denota que a mulher é mais frágil, mais sensível
e, por isso, deve ser amada e honrada pelo marido (Ef 5.25-29). Repito: o
princípio que Deus adotou foi o da prioridade, e não o da superioridade, visto
que Ele não faz acepção de pessoas (At 10.34). E o princípio da prioridade
também vale para o exercício do ministério.
Quem não aceita o princípio bíblico da prioridade abraçará,
inevitavelmente, “doutrinas de homens”, como o igualitarismo feminista. Alguns
teólogos, ao não encontrarem nas Escrituras passagens claras em defesa do
ministério feminino, têm afirmado que Paulo era contrário às mulheres, em razão
de sua formação farisaica. Isso não resiste a uma exegese, pois nenhum machista
aconselharia os homens a amarem a sua própria mulher (Ef 5.25), tampouco teria
tantas mulheres como cooperadoras (Rm 16). Ademais, esse apóstolo se declarou
imitador de Cristo (1 Co 11.1).
Se Paulo era machista, o que dizer de Jesus, que escolheu
doze homens para compor o ministério da igreja nascente? Ele teria se enganado?
Ou o Mestre tinha algum vínculo com fariseus, saduceus ou quaisquer grupos
machistas de sua época? A Bíblia diz claramente que o Senhor “chamou para si os
que ele quis” (Mc 3.13). Por que Ele não quis chamar algumas mulheres para
figurar entre os seus apóstolos? Por que não chamou seis casais, por exemplo?
Na escolha dos primeiros diáconos, que poderiam vir a ser
presbíteros ou apóstolos, caso tivessem chamada de Deus para tal e servissem
bem ao ministério (Hb 5.4; 1 Tm 3.13), os apóstolos disseram: “Escolhei, pois,
irmãos, dentre vós, sete varões” (At 6.3). No primeiro concílio, em 52 d.C., os
rumos da igreja foram traçados por homens (At 15). Em Apocalipse 2 e 3, são
mencionados os pastores (homens) das igrejas da Ásia.
Alguns teólogos dizem que Júnias (ou Júnia) era uma
apóstola. Mas, pelo que tudo indica, ele (e não ela) era apenas um cooperador
de Paulo. Mesmo que Júnias fosse uma mulher, o texto bíblico não confirma o seu
apostolado, pois não era comum uma mulher ficar presa com homens: “Saudai a
Andrônico e a Júnia, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se
distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo” (Rm 16.7).
Distinguir-se entre os apóstolos não significa, necessariamente, exercer o
apostolado. Marcos e Lucas, por exemplo, não eram apóstolos e se distinguiram,
se notabilizaram, entre eles.
Nos tempos da igreja primitiva, as mulheres se ocupavam da
oração (At 1.14) e do serviço assistencial (At 9.36-42; Rm 16.1,2). E algumas
se notabilizaram como fiéis cooperadoras do apóstolo Paulo, como Febe,
Priscila, Trifena, Trifosa, etc. (Rm 16), além de Lídia, a vendedora de púrpura
(At 16.14). Não há nenhuma referência a mulheres exercendo atividades
pastorais. Alguns defensores do pastorado feminino afirmam que Priscila era uma
apóstola, mas, a despeito de ela ter sido citada com destaque (At 18.26), não
há nenhuma referência que confirme seu apostolado.
“E as mulheres que estão no campo missionário dando a sua
vida pela obra de Deus? Não podem elas exercer o pastorado?”, alguém
perguntará. É claro que as regras têm as suas exceções. Mas não devemos nos
valer destas para adotar condutas generalizantes, sem compromisso com as
Escrituras, como o pensamento infundado de que todas as esposas ou filhos de
pastores são automaticamente pastores.
Conquanto as mulheres sejam mencionadas com grande destaque
nas páginas do Novo Testamento, aparecendo na linhagem e no ministério de
Cristo (Mt 1.3,5,6,16; Lc 8.1-3), Deus priorizou os homens, em regra geral, no
que tange ao pastorado e aos ministérios afins (Ef 4.8-11). Mas isso não
significa que as mulheres não podem trabalhar para Deus.
Todos os salvos são cooperadores de Deus (1 Co 3.9). Mas
precisamos aceitar a chamada soberana do Senhor para a nossa vida. Não devemos
amoldar a Bíblia ao nosso modo de pensar nem às influências filosóficas
prevalecentes no mundo. Por mais que nos sintamos contrariados, devemos
renunciar o nosso eu (Lc 9.23), a fim de obedecermos à vontade de Deus, que é
boa, agradável e perfeita (Rm 12.1,2).
Amém?
Nenhum comentário:
Postar um comentário