Talvez você já tenha ouvido falar sobre algumas destas
“notícias” no meio cristão:
- Pastores envolvidos com adultério ou homossexualismo;
- Jovens que saem dos cultos e vão para motéis;
- Consumismo, imoralidade entre cristãos;
- Rebeldia dos filhos e dos jovens em geral no meio da
igreja;
- Namoro com descrentes, etc, etc, etc.
Você sabia que isso também pode acontecer com você e comigo?
Todos nós podemos cair de modo semelhante se não tomarmos o cuidado necessário.
Mas isso não é algo que acontece da noite para o dia. Existe todo um processo,
que muitas vezes ocorre sem que percebamos, e que termina numa vida distante de
Deus.
Vivemos numa época em que muitas coisas querem nos afastar de
Deus. É um verdadeiro cabo de guerra. Duas forças puxando uma corda para lados
opostos. Todo cristão vive numa constante queda-de-braço, numa disputa pela sua
lealdade, pelo seu amor. O crente possui dentro de si o Espírito Santo, que
deseja levá-lo a amar a Deus e obedecer à Sus vontade, mas também possui o
pecado, que o empurra para amar o mundo e satisfazer os seus desejos.
Precisamos estar atentos, pois nós também podemos estar
caminhando para uma vida distante de Deus. E a Bíblia nos alerta sobre isso.
1 João 2.15-17 Não ameis o mundo nem as coisas que há no
mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há
no mundo, a concupiscência da carne a concupiscência dos olhos e a soberba da
vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a
sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece
eternamente.
Algo que precisamos ter sempre em mente para entender 1 João
é o fato de que a carta foi escrita a fim de possibilitar que os cristãos
pudessem desfrutar dos benefícios da comunhão com Deus. A epístola faz isso,
mostrando os critérios que permitem o cristão avaliar se ele mesmo está
desfutando desta comunhão. Neste sentido, João mostra que o amor é uma
evidência daqueles que estão em comunhão com Deus. Quando estamos em comunhão
com um Deus que é amor, conseqüentemente nos amamos a Deus e ao próximo. Por
isso, o texto exorta os cristãos a amar.
Mas existem coisas que podem nos afastar desta comunhão com
Deus, e conseqüentemente do amor que vem de Deus. João mostra aquilo que pode
nos afastar do amor a Deus e ao próximo é o amor ao mundo.
Quando amamos o mundo ou as coisas que pertencem a ele, a
conseqüência é que nos afastamos do amor tanto “a” como “que vem de” Deus. Um
exemplo disso está em 2 Timóteo 4.10:
“Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e
se foi para Tessalônica.”
Vemos que o fato de Demas ter amado as coisas deste mundo
fez com que ele abandonasse a Paulo e a obra missionária. Este é o risco que
corremos quando nos deixamos fascinar pelo que o mundo oferece.
O apóstolo João nos dá algumas orietações sobre este perigo
que corremos.
NÃO DEVEMOS AMAR O MUNDO NEM AS COISAS DO MUNDO (v.15a).
15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo.
João dá uma ordem! Não se trata de uma opção, mas de um
dever. O cristão não deve amar as coisas do mundo! Mas ele também aponta o
motivo pelo qual não devemos fazer isso...
1.1 – Não devemos amar o mundo porque aquele que o ama não
tem o amor a (que vem de) Deus (v.15b).
Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele;
A razão pela qual não devemos amar o mundo é que, quando nos
deixamos envolver por ele, isso nos afasta do amor de Deus. A pessoa que ama o
mundo demonstra que não ama a Deus. É o que nos mostra também Tiago:
Tiago 4:4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é
inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se
inimigo de Deus.
Mas como isso acontece? O que existe no amor ao mundo que
nos afasta do amor de Deus? João continua a nos dar a resposta.
1.1.1 – Porque as coisas do mundo não vêm de Deus (v.16)
16 porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede
do mundo.
João mostra que as coisas que existem no mundo não procedem
de Deus. Assim, quando amamos estas coisas estamos valorizando aquilo é
contrário ao próprio caráter de Deus.
O texto nos mostra que existem três elementos que pertencem
ao mundo e que nos afastam do amor de Deus. Quando João fala sobre “tudo” o que
há no mundo, dá a entender que os três elementos que apresenta a seguir são a
base para tudo aquilo que o mundo oferece que contraria a Deus. Em outras
palavras, todo o pecado e maldade que o mundo apresenta estão baseados nestes
três elementos:
- a concupiscência da carne
- a concupiscência dos olhos
- a soberba da vida
Vamos ver o que significa cada um deles.
a) concupiscência da carne (cobiça da carne)
A palavra concupiscência significa um “desejo intenso”. Na
Bíblia, ela é usada para se referir a um desejo negativo, pecaminoso. Existe
uma íntima ligação entre o desejo e a possibilidade de pecado. Tiago 1.13-15
diz o seguinte:
Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque
Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário,
cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então,
a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte.
Isso mostra que a origem do pecado do homem está nos seus
desejos, quando os alimentamos de tal maneira que buscamos satisfazê-los no
pecado. Assim, desejar as coisas do mundo nos leva ao pecado, e o pecado nos
afasta de Deus.
Mas não se trata de um desejo qualquer. Trata-se de um
desejo forte ligado à carne. A expressão aplica-se principalmente ao desejo que
temos de satisfazer as vontades pecaminosas através do nosso corpo. Podemos
incluir aqui todo o tipo de desejo sexual pecaminoso de impureza, lascívia,
fornicação, adultério, etc. Também se aplicam aqui os problemas relacionados à
comida, como gula, e bedida. Até mesmo a preguiça pode estar relacionada a um
desejo pecaminoso de satisfazer o corpo através do descanso.
Assim, se você anda desejando demais a satisfação dos
desejos do seu corpo, cuidado! Você pode estar se afastando de Deus. É preciso
negar seus desejos pecaminosos e deixá-los de lado e voltar sua atenção sobre
Deus.
b) concupiscência dos olhos (cobiça dos olhos)
A concupiscência dos olhos está ligada à cobiça. Trata-se da
vontade de contemplar aquilo que agrada aos olhos, mesmo que se trate de algo
proibido. É desejar excessivamente aquilo que não temos. Isso ocorre quando valorizamos
demais tudo aquilo que “enche os olhos”.
A Bíblia mostra vários exemplos disso:
- Eva (Gn 3.6):
“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer,
agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do
fruto e comeu e deu também ao seu marido, e ele comeu.”
- Davi (2Sm 11.2):
“Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando
no terraço da casa real; daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela
mui formosa.”
- Acã (Js 7.21):
“Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e
duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinqüenta siclos,
cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha
tenda, e a prata por baixo.”
Precisamos tomar cuidado com aquilo que nossos olhos
desejam, pois isso pode nos afastar do amor a Deus, na medida em que começamos
a desejar mais as coisas do mundo do que o próprio Deus.
Cuidado com aqueles desejos e sonhos aparentementes
inocentes que você alimenta em seu coração. Eles também podem afastar você de
Deus. Muitas vezes nos preocupamos apenas com aqueles pecados mais evidentes.
Mas é possível que aquele carro novo que você quer, ou aquele emprego, ou
aquela roupa, ou aquela pessoa se tornem algo que você deseja tanto, que esse
amor o afaste do amor a Deus.
c) soberba da vida (ostentação dos bens)
Se você tiver a NVI, pode perceber que a tradução diz
“ostentação dos bens”, ao invés de “soberba da vida”. Isso acontece porque a
palavra pode significar tanto “vida” como os “recursos para manter a vida”, ou
seja, os bens materiais. Em 1 João 3.17, por exemplo, o mesmo termo que é
traduzido como “vida” em 2.16 é traduzido como “recursos deste mundo”:
Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu
irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer
nele o amor de Deus?
Isso significa que João pode estar se referindo tanto ao
orgulho e confiança em bens materiais como ao orgulho fundamentado nas coisas
desta vida, incluindo aí até mesmo a capacidade intelectual da pessoa, por
exemplo. De qualquer forma, o sentido do texto é o de apreciar os recursos
deste mundo (materiais ou imateriais) que a pessoa possui e depositar neles a
sua confiança.
Quando amamos e confiamos mais nas coisas materiais do que
em Deus, isso é demonstração de que estamos distantes do amor de Deus. Em quem
você confia? Em Deus ou nas coisas deste mundo? A tranqüilidade do seu
sustento, de que as coisas não vão faltar no dia de amanhã está em Deus ou no
seu trabalho e no dinheiro que você guardou nos últimos anos?
Cuidado com aquilo que você valoriza e confia. O quanto você
ama as coisas materiais? Talvez seja seu carro novo, que você morre de medo que
alguém arranhe a tintura ou que seja roubado. Talvez seja seu celular novo que
você quer que todo mundo veja. Ou ainda aquele aparelho de som de última geração
que é tão especial para você que ninguém pode por a mão. Cuidado para a
importância que você dá para os bens materiais, isso pode afastá-lo de Deus.
1.2 – Não devemos amar as coisas do mundo porque elas são
passageiras (v.17).
Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele,
porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente.
O texto mostra ainda uma outra razão pela qual não devemos
amar as coisas do mundo. O motivo é que estas coisas são passageiras. Todas
estas coisas que despertam a concupiscência da carne, a concupiscência dos
olhos e a soberba da vida não existirão para sempre. Conseqüentemente, também a
concupiscências que elas despertam deixarão de existir. Isso significa que não
devemos preferir estas coisas, pois elas são passageiras.
Por outro lado, o texto mostra que aquele que faz a vontade
de Deus permanece para sempre. Não podemos esquecer que João está falando sobre
evidências de alguém que está em comunhão com Deus, ou seja, de pessoas
crentes. Estas pessoas irão viver eternamente na presença de Deus. Por isso o
apóstolo João faz o contraste: o cristão não deve amar o mundo porque ele
passa, e também não deve amar o mundo porque, como salvo, viverá eternamente
com Deus e por isso deve cuidar das coisas celestiais.
Se alguém quer te dar um presente e coloca diante de você
uma câmera digital de última geração e uma daquelas máquinas descartáveis, qual
delas você irá escolher? Você irá escolher aquela que irá durar! No entanto,
muitos de nós preferimos escolher aquilo que é passageiro, e deixamos de lado
aquilo que é eterno. Precisamos acordar: aquilo que é eterno tem muito mais
valor do que é mundano e passageiro. Se estivermos realmente convencidos disso,
iremos amar a Deus e não ao mundo.
Mas como podemos deixar de desejar estas coisas? Precisamos
lembrar que o desejo não é errado em si. O problema é a intensidade do desejo.
Tiago fala que somos tentados pelos nossos desejos, e tentação não é pecado. A
questão é quando o desejo pelas coisas do mundo é tão grande que ocupa o lugar
de Deus em minha vida.
A concupiscência por determinada coisa não é algo que
acontece do dia para a noite. Ela é fruto de um processo no qual nós vamos
gradualmente alimentando estes desejos no mais íntimo do nosso coração, a ponto
de nos tornarmos escravos deles. Do mesmo modo, deixar o amor pelas coisas do
mundo também é um processo, no qual deixamos de alimentar a concupiscência e
passamos a alimentar o amor por Deus. Em outras palavras, se uma pessoa tem
problema com cobiça, ela tem que confessar isso diante de Deus e preparar um
plano no qual irá deixar de alimentar o desejo. Por exemplo, se a pessoa cobiça
carros, ela deve parar, por um momento, de assinar a revista 4 Rodas. Controle
seus pensamentos. Ao invés de ficar toda hora sonhando com o carro, volte seus
pensamentos para Deus. Medite na Palavra. Memorize versículos. Transforme-se
pela renovação da sua mente (Rm 12.2).
Romanos 12.2 E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.